CEZANNE E EU

CEZANNE E EU (Cézanne et Moi, França,2018)

Dois amigos de infância, que estudaram em um mesmo colégio na França do século 19, aprenderam desde crianças a compartilharem tudo um com o outro. Mas, na busca por realizar seus sonhos, os dois tomam caminhos diferentes: um se torna um escritor famoso e rico. O outro, um pintor cujo talento não era reconhecido na época, portanto, pobre.

O filme,  um retrato da turbulenta amizade entre dois gênios, evita completamente o tom de reverência quase religiosa tipicamente adotada em histórias sobre artistas e escritores famosos, e se concentra na competitividade e complicada vida amorosa desses dois homens. A cineasta Danièle Thompson, que sempre pontuou sua filmografia com a combinação entre drama e romance, faz um retrato carinhoso desse relacionamento.

 Cotação: ★★★ (bom)

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ROCKETMAN

ROCKETMAN (Rocketman, Reino Unido, 2019)

Menino tímido, que sofreu com o descaso do pai, desde cedo demonstra vocação para a música. Quando adolescente, vem a conhecer um letrista, e eles formam uma dupla muito afinada, que acaba contratada por um grande estúdio musical. O lançamento em Los Angeles mostra-se um grande sucesso, e ele adota o nome de Elton John para decolar em uma carreira de enorme sucesso, contada através da releitura das músicas do ícone da música pop.

Uma biografia diferente das que temos visto, inclusive superior ao recente Bohemian Rhapsody, sobre o grupo Queen. Um relato fantástico dos altos e baixos da ascensão do astro Elton John, feito de forma a superar o molde de cinebiografias, investindo em números musicais extravagantes, ao mesmo tempo que adota uma perspectiva íntima sobre a vida do cantor. Dessa forma, o filme não foge das polêmicas e cria um musical pouco comum e delicioso de assistir. Muito do acerto do filme se deve à ótima interpretação de Taron Egerton. Assim como Elton John merece, é um filme que opera em uma escala muito mais grandiosa do que uma cinebiografia padrão.

Um filme para ver e rever de tempos em tempos, para recordar uma época em que o pop tinha seus gênios criativos de verdade

Cotação: ★★★★★  (excepcional)

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KARDEC

KARDEC (Brasil, 2019)

Na França do século 19, um educador de renome é convidado a examinar um fenômeno muito comum à época: as mesas girantes, que faziam sucesso nas reuniões e em festas. A princípio incrédulo, ele acaba participando de uma sessão, a convite de amigos conceituados, e mais tarde recebe convite dos espíritos para codificar os ensinamentos recebidos por trás da aparente diversão. Ele aceita e dá vida à doutrina espírita em cinco livros.

Uma obra biográfica que mostra com fidelidade aos fatos como se deu a transformação de um cético a codificador da Doutrina Espírita. Mas, além de ser uma boa cinebiografia, consegue também alcançar outros valores, com um discurso altruísta e que não faz proselitismo. A principal qualidade de “Kardec” é tratar seu biografado com respeito e sem histeria, mantendo uma atmosfera por vezes muito séria, onde algum eventual didatismo se justifica para atender ao público não-espírita.

Cotação: ★★★½  (muito bom)

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O GÊNIO E O LOUCO

O GÊNIO E O LOUCO (The Professor and the Madman, EUA, 2019)

No século 19, um estudioso ganha a aprovação de uma prestigiada universidade para criar o primeiro dicionário da língua inglesa. Com uma equipe reduzida, esforçada, mas sem talento para o trabalho, às portas da desistência, ele ganha o inesperado reforço de um assassino, prisioneiro em um manicômio para criminosos, mas altamente estudioso, que vem a contribuir decisivamente, com milhares de verbetes.

Este importante relato histórico de um episódio pouco conhecido traz uma história fascinante às telas com sensibilidade e eloquência. Ainda por cima, o filme faz refletir sobre o ódio e o perdão, e marca a volta de dois grandes atores (Sean Penn, magnífico, e Mel Gibson), há anos distantes das telas, em uma história edificante e bem narrada, dividindo-se entre duas vertentes até que seus caminhos se fundem em um só.

Cotação: ★★★★ (ótimo)

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O ANJO

angelO ANJO (El Ángel, Argentina-Espanha, 2018)

Rapaz de sexualidade ambígua, aparência angelical e cabelos encaracolados se envolve com um colega de escola. Os dois, com o apoio do pai do segundo, começam a praticar roubos, que se tornam cada vez mais audaciosos. O jovem não hesita em atirar para matar, por qualquer motivo – o que o torna, aos poucos, um dos maiores assassinos da história policial argentina.

Um suspense policial que aborda o submundo do crime de forma natural. O que poderia ser uma biografia maçante é mostrada como um cativante drama policial, nada previsível. O diretor faz um bom estudo de personalidade, encontrando em Lorenzo Ferro um intérprete perfeito para o protagonista, disposto a viver suas pulsões como se não houvesse amanhã, incapaz de sentir culpa.

Cotação: ★★★★ (ótimo)

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SUPREMA

SUPREMA (On the Basis of Sex, EUA, 2018)

Esposa de estudante de direito também resolve seguir a carreira jurídica, estudando nas instituições mais prestigiosas dos Estados Unidos e sempre se formando como a primeira aluna de sua turma. Mesmo assim, ao se formar, nos anos 1960, encontrou muitas barreiras ao tentar conseguir emprego, sendo recusada pelos principais escritórios de advocacia. Como professora, ela descobre um caso que dá a brecha para derrubar centenas de leis que permitem a discriminação às mulheres.

Uma biografia muito bem feita de uma advogada pouco conhecida no Brasil, mas considerada uma heroína da causa feminista nos Estados Unidos. Um filme emocionalmente satisfatório e muito bem conduzido pela diretora Mimi Leder. Que realiza um trabalho objetivo e bem articulado sobre o que a personagem realizou e por que isso foi importante.

Cotação: ★★★½  (muito bom)

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A FAVORITA

A FAVORITA (The Favourite, Reino Unido-EUA, 2018)

No começo do século XVIII, uma duquesa exerce forte influência na corte inglesa como conselheira e, secretamente, amante da rainha Ana. Uma parenta sua, cuja família caiu na miséria, a procura em busca de emprego, conseguindo o posto de criada. Aos poucos, ela cai no gosto da monarca e vai se tornando a sua nova favorita, o que leva a uma guerra entre as duas pela posição.

Um filme de época que vai além das obras do gênero, fazendo uma avaliação bastante sombria das motivações e comportamentos humanos, enquanto viaja através de mentes distorcidas. Além de ter três ótimas protagonistas femininas, apresenta uma história forte, que fascina pela riqueza do roteiro, pelo capricho da produção e pelo elenco. O diretor acerta em cheio ao ambientar as intrigas palacianas com angulações inusitadas e lentes que reforçam o sentimento de estranheza. Um dos favoritos ao Oscar de Melhor Filme.


Cotação: ★★★★½ (ótimo)


GREEN BOOK – O GUIA

GREEN BOOK – O GUIA (Green Book, EUA, 2018)

Quando o “night club” em que trabalha fecha as portas de repente, o “resolvedor de problemas” da casa se vê forçado a procurar um novo emprego, e acaba sendo contratado por um músico negro que vai sair em turnê com seu pequeno grupo musical pelos racistas estados do sul norte-americano. Suas habilidades se mostrarão necessárias em diversas ocasiões.

Uma história deliciosa e inspiradora sobre uma improvável amizade que conta com um roteiro afiado e uma hábil direção de Peter Farrelly, que nunca havia feito nada remotamente parecido. Com ótimas performances, Viggo Mortensen e Mahershala Ali lideram um road movie histórico e inspirador que desafia o caráter de seus personagens viajando por uma região perigosa e hostil dos Estados Unidos. Além de ser um filme para toda a família, desde já um dos melhores do ano.

Cotação: ★★★★★  (excepcional)

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VICE

VICE (Vice, EUA, 2018)

A caminho de ser um fracassado na vida, Dick Cheney enxerga na política uma oportunidade de subir na vida. Deu sorte e se torna assessor de um político importante. Com a renúncia de Richard Nixon, os poucos republicanos que não estavam associados ao governo ganharam prestígio e voltaram ao poder no partido com Gerald Ford. Décadas depois, George W. Bush decide se lançar candidato à presidência, e chama Cheney para ser seu vice. Ele aceita, desde que tenha amplos poderes dentro do governo.

Uma fábula divertida e afiada sobre o poder norte-americano, na qual o diretor consegue transcender a biografia simples devido a sua qualidade artística, tornando-se uma obra autoral de um cineasta que conseguiu ir além. A capacidade de criar um longa com um tema complicado e transformá-lo também em entretenimento, merece elogios. Christian Bale tem atuação irretocável como Cheney, fazendo por merecer o Oscar.

Cotação: ★★★★ (ótimo)

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BOHEMIAN RHAPSODY

BOHEMIAN RHAPSODY (Idem, EUA, 2018)

Quatro amigos músicos resolvem formar o Quenn, um conjunto de alto nível, ainda nos anos 1970. Porém, o estilo de vida extravagante do cantor do grupo começa a afetar o relacionamento entre eles, e ele acaba aceitando uma proposta para fazer carreira solo, o que irrita os demais componentes da banda.

Filme biográfico-musical em que os espectadores que curtem as músicas do Queen vão adorar as músicas, mas o único destaque real é a atuação carismática de Rami Malek como Freddie Mercury. A produção é muito bem cuidada e há fabulosas cenas de shows, fazendo sua qualidade dramatúrgica sobressair.

Cotação: ★★★½ (muito bom)

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